Como sintetiza David Harvey:
“O capital é um processo que começa com dinheiro, se materializa no trabalho e termina com mais dinheiro. É a metamorfose do trabalho humano em valor.” (Para Entender O Capital, p. 85)
Este artigo analisa como os conceitos de trabalho vivo, trabalho morto, valor, mais-valor e dinheiro se articulam no pensamento de Marx, evidenciando a lógica interna do capital e o papel do trabalho como fundamento de toda a valorização.
Trabalho vivo e trabalho morto: a dialética da produção
No processo produtivo, Marx distingue dois tipos de trabalho:
-
Trabalho vivo: a atividade presente do trabalhador, criadora de valor novo.
-
Trabalho morto: o trabalho passado, incorporado em meios de produção (máquinas, matérias-primas, edifícios, etc.).
“O trabalho passado, incorporado nos meios de produção, só reaparece no produto. O trabalho vivo, ao contrário, cria valor novo e reanima o trabalho morto.” (O Capital, Livro I, cap. 7)
Harvey observa que, para Marx, essa relação não é apenas técnica, mas social:
“O trabalho morto domina o trabalho vivo porque o capital, como valor acumulado, comanda o processo produtivo. O trabalhador se torna apêndice da máquina que ele mesmo criou.” (Para Entender O Capital, p. 90)
O valor e a substância do trabalho
“A substância do valor é o trabalho humano abstrato, e sua medida é o tempo de trabalho socialmente necessário.” (O Capital, Livro I, cap. 1)
O mais-valor: o trabalho vivo como fonte da valorização
Durante a jornada de trabalho:
-
Uma parte do tempo o trabalhador reproduz o valor do salário (trabalho necessário).
-
Na outra parte, continua produzindo sem remuneração (sobretrabalho).
Esse excedente é o mais-valor, base do lucro capitalista.
“O valor de uso da força de trabalho consiste em criar valor, e até mais valor do que ela mesma possui.” (O Capital, Livro I, cap. 6)
David Harvey resume:
“O capital compra o direito de consumir o trabalho vivo e, nesse consumo, extrai o mais-valor. É o uso da força de trabalho que valoriza o capital.” (Para Entender O Capital, p. 81)
O dinheiro como forma social do valor
Esse movimento expressa a metamorfose do trabalho:
-
D — o dinheiro é valor potencial, acumulado.
-
M — ele compra força de trabalho e meios de produção.
-
P (produção) — o trabalho vivo consome o trabalho morto e cria mais-valor.
-
M′–D′ — a mercadoria é vendida e o valor se realiza novamente como dinheiro, agora ampliado.
“O capital é valor que se valoriza. O dinheiro, ao se transformar em capital, torna-se sujeito de um processo cujo fim é seu próprio aumento.” (O Capital, Livro I, cap. 4)
Harvey explica:
“O dinheiro parece gerar mais dinheiro, mas na verdade apenas reflete o processo social de extração de mais-valor do trabalho vivo. O dinheiro é o fetiche supremo do capital.” (Para Entender O Capital, p. 87)
A inversão fetichista: o domínio do trabalho morto sobre o vivo
“O capital é trabalho morto que, como um vampiro, vive apenas sugando o trabalho vivo, e vive tanto mais quanto mais trabalho suga.” (O Capital, Livro I, cap. 10)
Harvey reforça a atualidade dessa metáfora:
“O capital é o trabalho morto que domina o vivo. As máquinas, os algoritmos e o dinheiro funcionam como formas sociais que mascaram as relações humanas de exploração.” (Para Entender O Capital, p. 94)
“O capital é valor em processo, valor que se valoriza, mas cuja vida depende do sangue do trabalho humano.” (O Capital, Livro I, cap. 4)
“O dinheiro é a aparência final do trabalho explorado — o espelho no qual o trabalho vivo não se reconhece.” (Harvey, Para Entender O Capital, p. 95)
Nenhum comentário:
Postar um comentário