No início do Capítulo 5 de O Capital, Karl Marx analisa o que chama de “o processo de trabalho” — isto é, a atividade humana concreta que transforma a natureza para produzir valores de uso. Antes de ser um conceito econômico, o processo de trabalho é uma categoria antropológica e histórica: ele expressa o modo pelo qual o ser humano se relaciona com o mundo material.
A explicação marxiana mostra que o trabalho é o ponto de partida da riqueza material, mas que, sob o capitalismo, essa atividade assume uma forma social particular: ela se torna meio de valorização do capital. Portanto, compreender o processo de trabalho é compreender como o capital apropria-se da capacidade criadora humana para produzir mercadorias.
2. O que é o processo de trabalho
Marx define o processo de trabalho como:
“O processo de trabalho, considerado independentemente de qualquer forma social, é um processo entre o homem e a natureza, no qual o homem medeia, regula e controla, mediante sua própria ação, o metabolismo entre si e a natureza.” (O Capital, Livro I, cap. 5)
Todo processo de trabalho, em qualquer sociedade, envolve três elementos essenciais:
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A atividade humana – o próprio trabalho, isto é, o esforço físico e intelectual do homem para produzir.
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O objeto de trabalho – a matéria sobre a qual o trabalho atua (pode ser a natureza ou algo já transformado).
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Os meios de trabalho – instrumentos, ferramentas e máquinas que permitem transformar o objeto em produto.
Esses três elementos constituem a base da produção de valores de uso, ou seja, coisas úteis que satisfazem necessidades humanas. O valor de uso é, portanto, a dimensão material e concreta do produto do trabalho.
3. O caráter universal e histórico do processo de trabalho
Assim, o mesmo processo de trabalho natural torna-se, sob o capitalismo, um processo social de exploração.
4. O trabalho como criador de valor
A diferença fundamental é que:
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O valor de uso depende da utilidade do objeto;
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O valor depende da quantidade de trabalho abstrato que o objeto contém.
5. O capital e a apropriação do processo de trabalho
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Meios de produção (máquinas, matérias-primas) → que apenas transferem valor;
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Força de trabalho → que cria valor novo.
Nos termos didáticos de Para Entender O Capital, o processo é explicado como um “duplo movimento”:
“O processo de trabalho é o ponto de partida da produção de valores de uso. Mas, sob o capital, esse mesmo processo converte-se em processo de valorização: o trabalhador cria mais valor do que o necessário para sua própria reprodução.”
6. A diferença entre processo de trabalho e processo de valorização
Marx distingue claramente as duas dimensões:
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Processo de trabalho → cria valores de uso (aspecto material da produção).
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Processo de valorização → cria valor e mais-valor (aspecto social da produção capitalista).
Como resume Para Entender O Capital:
“O capitalista parece produzir coisas úteis, mas o que realmente produz é valor. O objetivo do capital não é a utilidade das mercadorias, mas a valorização do valor.”
8. Conclusão
Assim, compreender o processo de trabalho é compreender o próprio núcleo da contradição capitalista: a vida criadora transformada em meio de valorização do valor.
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